A degeneração mixomatosa primária de valvas cardíacas foi descrita pela primeira vez em 1980 por Rippe et al., cujos aspectos fisiopatológicos observados incluíam degeneração mucoide da camada fibrosa do tecido valvar, com significativa fibrose e ruptura valvar na ausência de calcificação.
E quando falamos neste tipo de condição, nos vem, quase que automaticamente, em nossas mentes o acometimento da valva mitral. Contudo, a degeneração mixomatosa pode estar presente em outras valvas, seja associada ao acometimento mitral ou até mesmo de forma isolada.
A presença de prolapso da valva mitral por degeneração mixomatosa associado ao acometimento também da valva tricúspide pode ocorrer em até 30-40% dos casos. Em uma série chinesa com 1.080 pacientes, a prevalência de degeneração mixomatosa em qualquer valvar cardíaca foi de 9.62% (104 pacientes) e, destes, 59 apresentavam apenas envolvimento da valva mitral, 25 com acometimento da valva aórtica e 12 com doença da na tricúspide, sendo 2 de forma isolada e 10 com associação de degeneração mixomatosa mitral e tricúspide.
Caracteristicamente, a degeneração mixomatosa da valva tricúspide compartilha os mesmo aspectos morfológicos do acometimento valvar mitral, com espessamento grosseiro (aspecto algodonoso) dos folhetos valvares associado a prolapso ou billowing e envolvendo predominantemente os folhetos septal e anterior.
Além disso, o aparato subvalvar pode apresentar alongamento das cordoalhas tendíneas, podendo levar à ruptura (apesar de ser incomum) dessas estruturas e, consequentemente flail com regurgitação valvar significativa.
doi:10.1016/j.euje.2006.11.006
Não existe um critério ecocardiográfico diagnóstico amplamente aceito para o prolapso da valva tricúspide, sendo o movimento posterior de algum folheto com extensão ≥ 2 mm do plano do anel valvar considerado como parâmetro diagnóstico de forma geral.
Quanto ao espessamento dos folhetos, alguns autores advogam uma espessura ≥ 3 mm, enquanto outros falam em ≥ 5 mm. Portanto, nesse contexto, há ainda um componente de subjetividade para a definição diagnóstica.
Trago aqui um exame realizado nesta semana de uma paciente jovem com episódios frequentes e recorrentes de taquicardia supraventricular (aguarda procedimento de ablação por cateter), com achado de acometimento mixomatoso das valvas mitral e tricúspide e episódios de arritmia durante o exame.
À semelhança do que ocorre com o prolapso da valva mitral, um achado adicional e que deve ser sempre pesquisado é a presença de disjunção do anel valvar. Habitualmente ocorre em associação com a presença de disjunção do anel valvar mitral e existe atualmente um grande interesse para determinar se, assim como ocorre com a disjunção do anel mitral, há associação com arritmias ventriculares.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.