O primeiro cisto hemático intracardíaco foi descrito em 1844, contudo sua primeira descrição ecocardiográfica aconteceu em 1983 (Hauser et al.). Usualmente de origem congênita, são raros na idade adulta e relativamente frequentes em crianças (comumente regridem de forma espontânea até o sexto mês de vida).
Em algumas situações, contudo, podem ter etiologia adquirida, como nos casos de cirurgia cardiotorácica, traumas fechados ou resultantes de processos inflamatórios.
São encontrados predominantemente nas valvas cardíacas, sendo o folheto anterior da valva mitral o local mais comum de apresentação, com poucos casos relatados no interior dos átrios ou ventrículos. Apesar de serem assintomáticos, podem causas diferentes sintomas, tais como dispneia, dor torácica, síncope e déficit neurológico secundário à eventos embólicos.
Pela sua íntima relação com as estruturas valvares, pode causar regurgitação por coaptação incompleta dos folhetos, além de obstrução, ao prolapsar, da via de saída do ventrículo esquerdo quando de grandes dimensões.
A ecocardiografia é considerada a modalidade de escolha para o diagnóstico dos cistos hemáticos intracardíacos. Caracteristicamente, apresentam região central ecolucente, com paredes finas, bem delimitadas e de contornos regulares.
O uso de contraste ajusta a determinar o ponto de inserção da lesão, bem como a ausência de perfusão do cisto. Ainda, a ecocardiografia consegue avaliar as repercussões cardíacas, como regurgitação/estenose mitral.
O diagnóstico diferencial acaba sendo feito entre tumores sólidos como mixoma, fibroelastoma, e também com vegetações.
Não há consenso na literatura quanto ao manejo desses cistos. Na ausência de sintomas, regurgitação valvar significativa ou obstrução da VSVE, adota-se normalmente conduta conservadora, com seguimento ecocardiográfico para avaliar disfunção valvar ao longo do tempo.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.