Cistos broncogênicos cardíacos são lesões congênitas raras que se originam de um desenvolvimento anômalo do intestino anterior durante a embriogênese. Embora mais comumente encontrados no mediastino ou nos pulmões, o acometimento cardíaco pode ocorrer.
Considerada como uma condição rara, o cisto broncogênico cardíaco corresponde a apenas 1.3% de todos os tumores primários do coração e pericárdio, tendo sido descrito pela primeira vez em 1890 durante uma autópsia. Por outro lado, a primeira ressecção cirúrgica de um cisto broncogênico intracardíaco foi descrita em 1996 por Soeda et al.
Usualmente assintomáticos, são na maioria das vezes descobertos em exames de rotina. Contudo, a depender de sua localização e extensão, sintomas ou complicações causados por compressão de estruturas adjacentes, como dispneia, bloqueios atrioventriculares ou síndrome da veia cava superior, podem ocorrer.
O ecocardiograma é tipicamente o exame de primeira linha, embora tenha limitações e não defina diagnóstico etiológico. Por esta razão, um estudo multimodalidade em imagem cardíaca deve sempre ser uma estratégia a ser escolhida.
A idade média dos pacientes ao diagnóstico é de 39 anos, com maior incidência no sexo feminino (2:1). São descritos como uma massa ovalada ou arredondada unilocular, podendo apresentar coloração branca leitosa ou amarelada. O tamanho médio, segundo a literatura, é de 31 mm (10-90 mm) e, em geral, apresentam crescimento insidioso.
A localização mais comum é no septo interatrial, correspondendo a quase metade dos casos descritos. Algumas vezes pode se associar a alterações estruturais congênitas como defeitos do septo interatrial e interventricular, além de persistência da veia cava superior esquerda.
Pensando em imagens císticas intracardíacas, os principais diagnósticos diferenciais são:
- Equinococose – contexto clínico compatível; (viagens para regiões endêmicas ou histórico de cisto hidático visceral), acometimento preferencial da parede miocárdica do ventrículo esquerdo e septo interventricular; presença de focos de calcificação na parede cística, associação com outros pequenos cistos e delaminação da membrana podem ser característicos.
- Cisto Hemático Congênito – mais comumente observados na faixa etária pediátrica, se localizam tipicamente na região endocárdica no plano do fechamento valvar.
Vamos de exemplo ????
Homem, 47 anos de idade, com queixas de palpitações. Exame físico e radiografia de tórax sem achados significativos, porém o eletrocardiograma de repouso mostrava bloqueio atrioventricular total.
Ecocardiograma demonstrou função ventricular preservada e valvas cardíacas funcionalmente normais. Entretanto, chamava atenção a presença de uma massa bem delimitada, hipoecóica, medindo 29,9 mm x 25,6 mm de diâmetro, localizada no septo interatrial (A).
O estudo transesofágico (B) mostrou uma grande massa homogênea e hipoecogênica, sem fluxo ao estudo com Doppler e sem perfusão quando utilizado agente de contraste (C).
Realizado angiotomografia de artérias coronárias que descartou doença obstrutiva, confirmando a presença da lesão ovalada bem delimitada sem captação de contraste e sem vascularização.
A ressonância magnética cardíaca (B) descartou a possibilidade de deposição de tecido gorduroso e não mostrou realce tardio na lesão. Baseado em todos esses achados, a conclusão foi de se tratar de um cisto.
Com isso foi realizada abordagem cirúrgica, sendo ressecada uma massa com 40 mm x 30 mm de diâmetro, de superfície não rígida e localizada no meio do septo interatrial. Tratava-se de uma lesão cística com conteúdo mucoso de aspecto leitoso. A análise histológica revelou que a parede do cisto era composta por epitélio colunar ciliado estratificado com presença de células musculares lisas cujo diagnóstico final foi de cisto broncogênico.
Paciente apresentou boa evolução no transoperatório e o eletrocardiograma após a cirurgia mostrou apenas bloqueio atrioventricular de primeiro grau.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.