O exame ecocardiográfico uni e bidimensional, no que diz respeito a avaliação das coronariopatias, baseia-se principalmente no estudo do espessamento radial (mecânica radial) das paredes, caracterizando territórios com hipocinesia, acinesia ou discinesia. Esta avaliação é subjetiva, portanto, ainda mais operador-dependente do que as avaliações métricas que já realizamos no método.
Sabemos que as alterações segmentares ocorrem após lesões mais graves, que provocam sofrimento transmural do miocárdio. O strain cardíaco nos ajuda a estudar a mecânica radial do miocárdio de forma menos operador-dependente, mas, o mais importante, nos ajuda a detectar alterações mais precoces da perfusão, pois isquemias subendocárdicas (que normalmente não provocam alterações segmentares) já podem alterar a mecânica longitudinal das paredes, fazendo deste método um valioso aliado na avaliação de pacientes com doença arterial coronariana suspeita ou confirmada (por alteração de enzimas cardíacas, no infarto sem supra do segmento ST, por exemplo).
Exemplos práticos #1
Nas duas figuras que se seguem, exemplificamos alterações fisiológicas e patológicas que ocorrem após esforço físico em pacientes normais e portadores de doença arterial coronariana, respectivamente.
Vejamos alguns dos critérios para definição de isquemia, durante o ecocardiograma de estresse:
- O strain longitudinal global aumenta em testes normais e não aumenta ou diminui em testes isquêmicos;
- A contração pós sistólica fisiológica diminui com o estresse (como visto na figura 1);
- A contração pós sistólica que ocorre mais de 90 mseg após o fechamento valvar aórtico é sugestiva de sofrimento miocárdico;
- Aumento em 20% ou mais no valor do strain longitudinal (SL) segmentar após o fechamento valvar aórtico (FVA), em relação ao evidenciado exatamente ao fechamento (ex.: o segmento avaliado tinha -10% de SL no FVA e -13% após o FVA, evidenciando uma contração pós sistólica com trabalho 30% maior em relação ao período do FVA).
E o que é área de risco funcional?
Imaginem que um paciente está em investigação de dor torácica, na emergência, e faz um ecocardiograma com avaliação do SLG. Se ele apresentar strain menor que 15% em três ou mais segmentos contíguos, a probabilidade de ele evoluir com oclusão total de uma artéria coronária é maior. Ou seja, este paciente tem uma área miocárdica com alterações funcionais (strain reduzido) com risco de oclusão arterial aguda. Daí o termo “área de risco funcional”. Trata-se, portanto, de paciente que merece investigação e tratamento mais precoces.
Exemplos práticos #2
E então? Aprenderam um pouco mais sobre as aplicações do strain? Compartilhem, deixem suas dúvidas nos comentários e aguardem os próximos posts. Até breve!
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Graduada em medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pós-graduada em Cardiologia, pela Funcordis, e em Ecocardiografia, pela ECOPE. Possui título de Especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Excelente, muito didático. Grato!