Na postagem anterior falamos sobre um novo modelo de avaliação da estenose aórtica (EAo) baseado na quantificação de cálcio valvar através da análise da densidade média de pixels. Nesta proposta, o 2D-AVC Ratio mostrou boa correlação em diferenciar EAo severa de EAo não severa, sendo, portanto, uma opção (aparentemente confiável) naqueles casos em que as medidas ecocardiográficas são discrepantes.
Em recente publicação da American Society of Echocardiography, um novo estudo retrospectivo avaliou a capacidade do 2D-AVC Ratio em diferenciar a estenose aórtica não apenas em severa de não severa, mas também nas classificações “nonmoderate”, “moderate ou greater” e “moderate versus severe”, em que:
- Nonmoderate = estenose leve ou VAo normal
- Moderate ou greater = estenose moderada ou severa
- Nonsevere = VAo normal, estenose leve ou moderada
Foram avaliados um total de 285 pacientes, com idades entre 50-95 anos, entre os anos de 2008 e 2022, com ecocardiografia prévia classificando a valva aórtica (VAo) em normal (n = 49), esclerose valvar (n = 75), estenose leve (n = 38), estenose moderada (n = 72) e estenose severa (n = 51). A VAo foi avaliada no eixo curto, no final da diástole (valva fechada) e pelo menos 75% do anel valvar sendo visualizado nesta janela. Pacientes com VAo bicúspide foram excluídos.
Os parâmetros ecocardiográficos para classificar o grau de acometimento valvar foram os seguintes:
- EAo severa: velocidade máxima > 4.0 m/s e/ou área valvar < 1 cm²;
- EAo moderada: velocidade máxima 3.0 – 4.0 m/s;
- EAo leve: velocidade máxima 2.5 – 2.9 m/s;
- Esclerose valvar aórtica: velocidade máxima < 2.5 m/s.
Os resultados mostraram que o 2D-AVC Ratio pode ser utilizado para diferenciar os diversos estágios da estenose valvar aórtica com boa acurácia:
- Moderate x Severe -> AUC = 0.88;
- Nonsevere x Severe -> AUC = 0.94;
- Nomoderate x moderate or greater -> AUC = 0.93
* AUC – Area Unde the Curve: mede a qualidade das previsões do modelo, independentemente do limiar de classificação; o valor do AUC varia de 0,0 até 1,0 e o limiar entre a classe é 0,5. Ou seja, acima desse limite, o algoritmo classifica em uma classe e abaixo na outra classe; um modelo cujas previsões estão 100% erradas tem uma AUC de 0, enquanto um modelo cujas previsões são 100% corretas tem uma AUC de 1.
Não houve diferença significativa entre EAo leve e esclerose valvar (AUC = 0.56) – FIGURA 5;
Como sou curioso, fui fazer a análise de alguns casos para tentar reproduzir este método de avaliação.
NOTA: mais uma vez, não usem como parâmetro as minhas medidas, pois as fiz por conta própria, tentando aprender a utilizar o software sem orientação de alguém habilitado rsrsrs!
Por se tratar de estudo retrospectivo, existem algumas limitações metodológicas, contudo a tendência é que esse modelo de avaliação seja cada vez mais estudado para que possa, um dia, se tornar um método validado. E ai, o que acharam?
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.