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FLUXO DE CORONÁRIAS E RESERVA DE FLUXO CORONARIANO
Técnica com Doppler pulsátil
A utilização do Doppler espectral pulsátil permite quantificar o fluxo coronariano, tanto em repouso como após a infusão de vasodilatadores, com a finalidade de mensurar a reserva de fluxo.
Uma vez localizado o fluxo coronariano com Doppler em cores, posiciona-se o volume-amostra do Doppler pulsátil no centro do vaso o melhor alinhado possível com o fluxo. O tamanho do volume-amostra deve ser pequeno (1 ou 2 mm) (Figura 8).
Fisiologia do fluxo coronariano
O miocárdio, particularmente a região subendocárdica, é um dos tecidos que apresenta maior consumo de oxigênio no corpo humano, motivo pelo qual a função cardíaca é altamente fluxo-dependente. Entre os fatores que influenciam o fluxo das artérias coronárias estão a pressão de perfusão das artérias epicárdicas e a resistência oferecida pelo sistema arteriolar intramural causada pela compressão miocárdica durante a sístole (1).
Na fase inicial da diástole o fluxo é rapidamente anterógrado de forma a preencher o leito vascular esvaziado durante a sístole pela compressão (fluxo de capacitância), seguido pelo fluxo de perfusão ou de condutância, também anterógrado, para o qual contribui o tônus miogênico intrínseco, resposta das células lisas da musculatura arteriolar às variações de pressão. Este fenômeno, que ocorre em repouso, é conhecido como auto regulação basal e permite que o fluxo seja constante dentro de certos limites, mesmo com variações da pressão de perfusão. O fluxo coronariano apresenta heterogeneidade transmural devido ao maior metabolismo da região subendocárdica com relação à região subepicárdica.
Quando há aumento da demanda miocárdica de oxigênio, como acontece durante o esforço, ou quando induzida por agentes farmacológicos, a relação entre pressão de perfusão e fluxo coronariano torna-se linear, sendo regulada pela resistência do sistema microvascular. Como o miocárdio responde imediatamente ao aumento do seu metabolismo com aumento proporcional do fluxo, este aumento (hiperemia) traduz a reserva do fluxo coronariano, sendo a relação entre a pressão e o fluxo a expressão da resistência do sistema: quanto maior a taxa de aumento da pressão e do fluxo (condutância), menor a resistência do sistema microvascular. O aumento do fluxo coronariano para fins de aferição de sua reserva pode ser obtido pela utilização de fármacos vasodilatadores específicos das arteríolas intramurais como a adenosina, o dipiridamol e a papaverina, que não promovem a dilatação das artérias epicárdicas. O aumento do fluxo por estes fármacos expressa, portanto, a vasodilatação microvascular (2).
A presença de estenose significativa em um vaso epicárdico diminui a reserva do fluxo coronariano pela diminuição da pressão de perfusão para o território por ele irrigado. Esta diminuição é compensada, em repouso, pelo fenômeno de auto regulação, porém, em detrimento da reserva de fluxo, principalmente da região subendocárdica. As doenças que provocam remodelação da microcirculação coronariana como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemias, diminuem a reserva do fluxo coronariano por disfunção do endotélio das arteríolas intramurais e subendocárdicas, que aumentam o tônus da musculatura lisa arteriolar, com consequente aumento da resistência.
Nos pacientes com hipertrofia miocárdica o remodelamento concêntrico produz aumento da espessura da camada média das arteríolas intramurais e a diminuição do número de vasos capilares por unidade de músculo, pelo aumento da massa miocárdica, sem incremento do número de vasos. Como a resistência oferecida pelos vasos capilares é nitidamente menor do que a oferecida pelas arteríolas intramiocárdicas, este último fator, associado às alterações teciduais do miocárdio (aumento do número de miócitos e presença de fibrose intersticial), parece ser o maior responsável pela diminuição da reserva do fluxo coronariano, devendo contribuir também as alterações endoteliais.
As alterações devidas a causas morfológicas, associadas ou não às alterações endoteliais, são bem menos conhecidas e frequentemente subestimadas, podendo provocar precordialgia e até isquemia miocárdica com artérias coronárias epicárdicas normais.
O fluxo coronariano, então, reflete tanto as alterações dos vasos epicárdicos como da microcirculação.
Bibliografia
- Opie LH. The heart: physiology, from cell to circulation. Philadelphia: Lippincot-Raven; 1998. p.267.
- Candell-Riera J, Martín-Comín J, Escaned J, Peteiro J. Valoración fisiológica de la circulación coronária. Papel de las técnicas invasivas y no invasivas. Rev Esp Cardiol. 2002; 55:271.
É doutor em medicina, especialista em Cardiologia (SBC) e especialista em Ecocardiografia.
Curriculum completo disponível na Plataforma Lattes
(http://lattes.cnpq.br/4922446519082204)