Na postagem anterior falamos sobre a possibilidade da presença de contraste espontâneo (CE) em coração estruturalmente normal, “fugindo” um pouco daquelas situações mais frequentemente observadas na nossa prática e que se relacionam com mudanças da velocidade de fluxos intracavitários.
Olha que caso interessante que acabei achando na internet (LINK) enquanto preparava o conteúdo da última postagem.
Paciente de 20 anos de idade, refugiado, admitido com história de dispneia progressiva, há 12 meses, associada a edema periférico e adinamia. Ao exame, observa-se turgência jugular patológica, hepatomegalia e edema importante de membros inferiores.
Eletrocardiograma com flutter atrial e radiografia de tórax demonstrando congestão pulmonar leve e calcificação do pericárdio.
O paciente era previamente hígido e negava passado de tuberculose.
Exames laboratoriais com D-dímero elevado, com tomografia computadorizada (TC) de tórax confirmando embolia pulmonar, além de calcificação importante do pericárdio. Doppler venoso de membros inferiores não observou trombose venosa e o rastreio para trombofilias foi negativo.
Ecocardiograma evidenciou aumento biatrial importante e presença de espessamento pericárdico. Ao estudo com Doppler, ficou demonstrando padrão de restrição compatível com pericardite constritiva. Chamava atenção a presença de contraste espontâneo em todas as cavidades cardíacas (de forma mais significativa nas câmaras direitas), achado este também observado na ecocardiografia transesofágica.
Iniciado, então, anticoagulação oral e indicado a realização de pericardiectomia. O estudo histológico revelou apenas calcificação importante do pericárdio, com culturas descartando tuberculose pericárdica.
Presença de contraste espontâneo no átrio direito (AD) tem prevalência bem menor quando comparado com CE no átrio esquerdo (AE). Contudo, a incidência de contraste espontâneo aumenta em pacientes com átrios aumentados e com arritmias.
Neste caso específico, a presença de pericardite constritiva pode ter levado ao aumento dos átrios (achado comum nesse contexto, embora não seja comum aumentos significativos), que, associado ao caráter restritivo (levando a redução das velocidades dos fluxos intracavitários), justifica a presença de CE.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.